30 de agosto de 2011

Movimento Involuntariamente Concebido (Pesadelos)

Tu não passas de abstinência, penso. Tento me enganar a todo tempo. Tento pensar que o Narciso que te habita não nos deixar compor esta lírica. Penso que o dia terá acabado mais depressa se dormir durante a tarde. Penso que os pesadelos não virão. Penso e engano-me a mim mesmo. Penso e não saio das ideias, continuo preso no virtual, fora do real, só no virtual.

Ouço músicas que me lembram a ti. Leio poesias piegas e choro. Vejo filmes infantis e choro. Porque parece que os desgraçados só produzem. Porque parece que os meus textos fluem quando desgraçado estou. Ora, mas como será que este texto pausa meus pensamentos? Como pode uma mente sofredora não conseguir expressar-se?

E me perco na meta-física contida entre uma interrogação e outra. Perco-me no espaço presente entre um parágrafo e outro. Perco-me na tentativa de concatenar ideias. Perco-me em mim. Perco-me tentando-te achar aqui dentro. Mas, de alguma forma maligna, parece-me que fugiste. É como se a inspiração não chegasse antes da ação.

É como se fosse eu movido por impulsos inconstantes. E eu vou tentando-me movimentar de acordo com o vento, ora semelhante à brisa, ora semelhante ao furacão. E vou eu invertendo sintaxes e retirando a ordem concisa de um texto e seus parágrafos.

Caio. Caio dentro de mim. Caio dentro da pasmidão que minha casaca envolve. Caio dentro dessa situação. Caio dentro de seu cheiro, que aparece como um susto matador. Adentro-me o sentimento. E, quanto mais adentro, mais longe do real me encontro. E quanto mais longe do real me encontro, mais longe de encontrar-te permaneço.

Leandro Augusto.

9 de agosto de 2011

Se a pedra fosse dura, a água mole não furaria

A verdade é que o homem tem suas próprias crenças e elas acabam perpassando a sociedade em que está inserido. Os chamados tabus fixam-se em sociedades sem que ninguém perceba. É natural. É lógico. É imposto. É ilógico.

Andando pela rua num domingo a tarde, começo a pensar que preciso preparar o almoço para comermos eu e meus amigos de república. Ora, o domingo não foi feito para almoços em família? E aí lembro-me que preciso trabalhar em algumas coisas para a semana. Ora, o domingo não foi feito para descançar e assistir televisão? Em família?

O domingo é um tabu da nossa sociedade. Não toque no meu domingo porque é sagrado! Não toque na minha língua porque é sagrada! Não toque na minha fé e não pronuncie blasfêmias, porque também é sagrado tocar a santa paz de Deus!

Mas então aonde andam as nossas próprias vontades? Se eu quiser viver um dia inteiro sem uma única palavra cordial, como um olá, até logo, as pessoas me matariam? A sociedade me mataria? Quer dizer, existem mesmos esses tabus arraigados em nossa fé como mantenedores da perfeita organização social?

Antonin Artaud tem um texto que fala sobre seu tratamento com ópio. Ele diz que a sociedade é tão moral que não pode ouvir os gritos de um louco implorando por sua droga. “Ah, como o cordão umbilical da moralidade está bem atado neles!”. Bem, a loucura é uma quebra constante de tabus. Temos regras sustentadas na perfeição das permamentes ideias humanas que diz que tipos de atos são consideráveis corretos e apropriados.

Temos que nos apropriar às situações. A todo momento! Temos um script colocado por outrem para tudo – absolutamente tudo – o que fazemos ou pensamos em fazer. E o tabu entra como um script de pensamento. É uma virose que costura mentes alheias. É uma virose que contamina sentimentos alheios.

Se você vê uma notícia de assassinatos em série ou de uma filha que mata os pais e não acha ultraje, você é ultraje. Se você olha para um travesti e não acha engraçado o fato de ter um pênis no meio da saia e não acha ultraje, você é ultraje. Se alguém da sua família morre e você não chora, você não tem sentimentos, logo, você é ultraje.

O tabu não passa de uma expectativa. Diria extectativa de vida da sociedade. A sociedade implica que hajam tabus. Tabus implicam uma sociedade organizada e moral. Mas a moralidade de quem? E os valores próprios, cadê?

Pois a sociedade passa por uma modernidade líquida, em que suas maiores instituições começam a se liquefazer. Os maiores tabus, como a família, a sexualidade, a infância, começam a tornar-se líquidos e a busca pelo sólido começa a pipocar em mentes atentas.

Resta saber, até que ponto essa solidez de nossas instituições era, de fato, sólida ou solidificada? Será que tudo o que é sólido pode derreter? Ou será que o sólido não é exatamente sólido e, por isso, derrete-se facilmente?

Será que vivemos em uma ilusão de ideias? Será que os tabus – tão ditos sólidos em nossa sociedade – não são nem nunca foram sólidos o bastante para aguentar a água mole em pedra dura? Será que é a morte dos tabus? Será que é a morte dos valores da sociedade? É a morte da sociedade.

Leandro Augusto.