26 de maio de 2009

Bach

Ele só não entendia por quê aquele bueiro o fez parar seu cotidiano estereotipado para ouvir aquele refrão.
Sentou-se e abriu bem os olhos para escutar de perto o coro dos violinos daquela melodia que lhe era bem familiar. Mozart ou Bach, ele sabia. Tinha certeza. Mas também poderia ser a vigésima quinta sinfonia de Beethoven, não tinha certeza, menti.
Ecoava. Aquela canção sutil e estridente. Em seus ouvidos seduzidos, a cera dos tímpanos não queria ser nada mais que observadora. Em seus olhos, a pupila dilatava e maravilhava com a escuridão que fingia ver. Naquele bueiro, um mundo paralelo suplicando para ser descoberto, para ser achado.
Contundências à parte, mas aquele bueiro falou comigo! gritou. Digam olá para o mais novo louco da vizinhança.
Não havia anoitecido, mas ele dormiu um sono acabado pelos raios de sol do dia seguinte. De volta à rotina.


João Hernesto