15 de abril de 2010

Concordância é Whisk and Bowl! *

Nóis podi falá tudu u qui nóis quisé, du geitu qui nóis quisé. Tendeu? I téim mais: eu possu iscrevê assim purquê eu posso i quéim é qui vai mi impedí?
Surpreende-me muito que as pessoas ainda toquem no assunto língua tratando-a como modalidade certa ou errada. Que fique claro que o propósito deste texto não é – de modo algum – o de demonstrar como sei de Sociolinguística e como sou um imparcial estudante de Letras. Porém, convém escrever, até porquê eu não ligo muito para o que pessoas vão comentar, ninguém comenta meus textos mesmo. Ninguém tá nem aí se eu vou fazer a concordância ou não.
Mas que eu fico puto, eu fico. E “puto” entra aqui só porque eu uso a língua que eu quiser usar, eu falo o vernáculo que melhor se adaptar às circunstâncias, eu escrevo da forma como meu lado cognitivo pensar que devo escrever. E não cabe a absolutamente ninguém julgar.
O primeiro argumento é bem simples: quando se estuda cultura de alguma sociedade, não costuma-se dizer (espero que não mais) que tal obra de arte é melhor que a outra, ou que Picasso é mais artista que um tatuador. E alguém pode me falar que é língua senão aspecto cultural? Alguém, por favor?
Ainda nessa linha de raciocínio, a cultura pode se dividir em pontos regionais e históricos. Regionalismo é um termo tão negativo, por seu sufixismo arraigado de negativismo. O falar de uma região é marca de determinada cultura, e ela deve, sim, ser levada em consideração. Ela deve ser vista como uma das muitas variedades linguística que um território demarcado traz. É isso que mostra peculiaridade em cada falar. Quem há de negar isso?! Alguém, por favor?
E sob a perspectiva histórica, ninguém há de dizer que vossa mercê é errado e você é certo – ou o contrário. A língua muda, sim. Querendo ou não. Nossos próprios falares mudam. E isso vai bem para aquele lado da vida das línguas. As línguas vivas mudam, elas se desenvolvem, positivamente e negativamente. Mas quem somos nós para dizer o que é negativo e o que é positivo?! É um relativismo (com sufixo mesmo) tão grande que me dá nos nervos.
E tem mais!
Ora, que é o português senão uma “modernização” (bem entre aspas) do latim vulgar?! Ou você acha mesmo que nossa língua vem do latim bonitão e visto como “culto” no Império Romano?! Bem ingênuo pensar isso, não?
E, afinal de contas, que é culto mesmo?! Voltemos ao relativismo.
Quem concordar comigo, leia Bagno (mas só um poquinho, porque ele é bem perigoso). Quem não concordar, que fique com seu pensamento tradicionalista e com sua Gramática Tradicional e saia julgando, prepotentemente, o primeiro parágrafo desse texto. A solução é bem simples. Só vê quem quer.
Leandro Augusto

*http://www.dicionarioinformal.com.br/definicao.php?palavra=escambau&id=6344

7 de abril de 2010

O conto fantástico

- Quero escrever um conto fantástico.
- Que bom.
- Quero dicas...
- Bem, já tentou ler Allan Poe?
- Estou a ler.
- Pronto.
- Isso não me trouxe inspiração o bastante.
- Você não é de peixes?
- Sim.
- Não entendo.
- Acho que prefiro viajar sobriamente, sabe?
- Mais ou menos.
- Enfim.
- É...
- Acho que terei que ter um cinco-minutos...
- Use drogas.
- É uma boa saída. Mas... sei lá... é tão...
- Tão o que?
- Óbvio. Além do mais, VOCÊ é o mais velho aqui. Ensina-me coisas que mais velhos ensinam.
- Como o que?
- Como NÃO usar drogas.
- Tá. Você está proibido de usar drogas!
- Obrigado. Mas e o meu conto fantástico?
- Allan Poe.
- Vou terminar o livro.
- Ótimo.
- Ótimo.

João Hernesto

(para saber de onde vem essa cobrança por dicas de como se escrever bem, leia o texto "A doença e a consonância", é só procurar nas antiguidades deste blog)