Ele se sentou naquele chão por onde pés que habitaram a terra no século XVII haviam passado sobre. A noite estava um bocado fria, mas estava propícia para a filosofia e para religião. Ele já sabia que aquela velha história de “Deus criou o homem à sua imagem e semelhança” era papo furado. O homem cria – não criou – seu próprio deus à sua imagem e semelhança; ninguém acredita no que não lhe faz sentido. Ninguém ora, reza, ritua sem acreditar que aquilo seja a escolha certa, que seja exatamente aquele deus que lhe cai bem.
Ele olhou à sua volta e enxergou, dessa vez ele enxergou. As folhas das árvores cantavam e faziam um som engraçado quando se misturavam ao coaxar dos sapos. Os pássaros não estavam lá, mas ele os via plenamente dormindo e descansando em seus ninhos construídos com natureza. Ele enxergou o verde brilhando, aquele mesmo verde de Jorge Mautner, só que agora fazia sentido aquela linguagem poética toda. Viu o sereno pedindo licença para entrar; a noite dizia: “seja bem-vindo”.
Ele enxergou a Lua. Lembrou do que tinha lido. A Lua é a deusa, ela é a responsável pela criação desses elementos que havia misturados naquela noite fria e confortável. Ela – a leitura, não a lua – o fez abrir os olhos para enxergar as salamandras e os duendes. Eles são os guardiões, eles são aquela energia negativa que alguns de nós sentimos quando gastamos horas no banho. Esses guardiões da natureza e dos quatro elementos são quem nos dão o remorso de usarmos a natureza como matéria-prima para sustentarmos nosso gozo de um mundo capitalista, para sustentarmos nosso vício de conforto – o caminho mais curto para ele.
Ele enxergou a Lua.
Ele enxergou o Sol, lá no fundo. Ele esperava na espreita a hora de se encontrar com sua amada; ele viu o sexo dos dois um pouco mais tarde, quando eles de encontraram. Ele viu a Lua prenha, ele viu o Sol a penetrando. Ele enxergou tudo isso.
Enxergou as estações do ano mentalmente. Porque a ciência nos faz pensar que tudo acontece por causa de sua explicação pautada no empirismo?, pensou. Porque os elementos não podem explicar? Porque a Lua e o Sol não podem ter relação direta com isso? Se eu quiser falar de Tor, com seu machado, eu posso? Se eu acreditar que não chove no inverno porque Tor está sem seu machado nessa época, eu posso? Permitir-me-ão?
Ele pensou tudo isso.
Quero fundamentar minha própria tese de vida. Minha religião, minha crença maior. Quero justificar a minha existência com mitos que fazem todo o sentido só para mim, para mais ninguém. Afinal, quem é que disse que a bíblia faz sentido? Nenhum para mim. Quem disse que o Corão é sensato, ou que Kardec tinha razão? Ninguém pode afirmar que sua religião é a certa, apesar de muitos o fazerem. O que importa é crer que há algo que é maior e que está por trás das coisas desse mundo. Espiritualização é a resposta.
Ele pensou em tudo isso.
Depois, ele enxergou a Lua e o Sol, numa penetração esplêndida.
João Hernesto
Ele olhou à sua volta e enxergou, dessa vez ele enxergou. As folhas das árvores cantavam e faziam um som engraçado quando se misturavam ao coaxar dos sapos. Os pássaros não estavam lá, mas ele os via plenamente dormindo e descansando em seus ninhos construídos com natureza. Ele enxergou o verde brilhando, aquele mesmo verde de Jorge Mautner, só que agora fazia sentido aquela linguagem poética toda. Viu o sereno pedindo licença para entrar; a noite dizia: “seja bem-vindo”.
Ele enxergou a Lua. Lembrou do que tinha lido. A Lua é a deusa, ela é a responsável pela criação desses elementos que havia misturados naquela noite fria e confortável. Ela – a leitura, não a lua – o fez abrir os olhos para enxergar as salamandras e os duendes. Eles são os guardiões, eles são aquela energia negativa que alguns de nós sentimos quando gastamos horas no banho. Esses guardiões da natureza e dos quatro elementos são quem nos dão o remorso de usarmos a natureza como matéria-prima para sustentarmos nosso gozo de um mundo capitalista, para sustentarmos nosso vício de conforto – o caminho mais curto para ele.
Ele enxergou a Lua.
Ele enxergou o Sol, lá no fundo. Ele esperava na espreita a hora de se encontrar com sua amada; ele viu o sexo dos dois um pouco mais tarde, quando eles de encontraram. Ele viu a Lua prenha, ele viu o Sol a penetrando. Ele enxergou tudo isso.
Enxergou as estações do ano mentalmente. Porque a ciência nos faz pensar que tudo acontece por causa de sua explicação pautada no empirismo?, pensou. Porque os elementos não podem explicar? Porque a Lua e o Sol não podem ter relação direta com isso? Se eu quiser falar de Tor, com seu machado, eu posso? Se eu acreditar que não chove no inverno porque Tor está sem seu machado nessa época, eu posso? Permitir-me-ão?
Ele pensou tudo isso.
Quero fundamentar minha própria tese de vida. Minha religião, minha crença maior. Quero justificar a minha existência com mitos que fazem todo o sentido só para mim, para mais ninguém. Afinal, quem é que disse que a bíblia faz sentido? Nenhum para mim. Quem disse que o Corão é sensato, ou que Kardec tinha razão? Ninguém pode afirmar que sua religião é a certa, apesar de muitos o fazerem. O que importa é crer que há algo que é maior e que está por trás das coisas desse mundo. Espiritualização é a resposta.
Ele pensou em tudo isso.
Depois, ele enxergou a Lua e o Sol, numa penetração esplêndida.
João Hernesto