Hoje eu acordei de um sonho gostoso. Sonhei com meu cachorrinho que fugiu de casa. Sonhei que abraçava-o , beijava seu focinho, apertava seu corpinho até que ele resmungava algo como “isto doi”. Foi aí que eu acordei.
Bem, eu acordei. Acordei, mas o sonho ainda estava ali. Aquele cachorrinho tinha ficado maior, mas eu ainda era impulsionado a apertá-lo e beijar-lhe o focinho. Aquele cachorrinho com bafo matinal me dizendo palavras como “Bom dia”, “Eu te amo” num tom de voz tão suave que quase me desmantelava o corpo.
E a meia luz que da janela vinha anunciava o dia que estava por vir. E essa mesma me insistia em lembrar dos muitos afazeres objetivados para o presente dia. Então eu virava meu rosto só um pouquinho e via o paraíso, assim, como se fosse uma tentação infernal – chamando-me para permanecer deitado para sempre.
E os olhos puxados, e a pele branca e macia. E o destaque de lábios desenhados como numa pintura. E o destaque de um nariz de traços fortes, como a arte barroca. E o destaque mais que presente de um corpo coberto por um cobertor transparente, que deixava escapar um corpo tão fino e quebrável que chegava a dar-me a impressão de eu mesmo ser tão grande e robusto. Delicadeza. “Prometo não quebrar-te”, disse para mim mesmo, tomando cuidado para não acordar o cachorrinho que voltara a dormir.
E dormia meu anjo. E dormia respirando rapidamente e profundo bem nos meus cabelos. Meu anjo respira encostado em mim, respira ar quente como um cachorrinho filhote. E meu sorriso que não queria cessar de modo algum. E meus olhos que não queriam conter as lágrimas.
E foi quando eu realmente acordei que eu pude ver que aquela passagem do sono para o despertar fora a delícia mais metafórica que pude ter. E foi quando eu realmente acordei que eu pude dizer para mim mesmo: “Quero ficar assim para sempre”.
E foi quando eu realmente acordei que pude ao menos expressar uma frase em meio a tanto engasgo: “Bom dia.”
Leandro Augusto.