Constato primeiramente a natureza e o propósito deste texto: poética, simples e puramente. Portanto não espere você, caro leitor, um texto jornalístico propriamente dito; espere, sim, um poema difícil de ser interpretado.Mariana é um lugar bem peculiar - falemos primeiro de um modo geral. Para as pessoas que não sabem, eu não sou daqui, e não tenho muito orgulho em falar que vim de uma cidade grande. Na minha cidade (não no sentido de posse) a característica mais marcante: caos. Há muito o que subentender à essa palavra, tal como pontualidade, esquema, horário, atraso, horário, encontros, trabalho, horário, escola, faculdade e horário. Já Mariana eu vejo uma palavra que também subentende muitas outras, mas deixo livre para o meu destinatário fazer sua interpretação à sua maneira: paz. (ponto)Se pensamos no caos de minha cidade, imaginamos logo de cara um só som: buzinas. Sim, basicamente. Acontece que esse som aliado a barulho de motores de automóveis e motocicletas remete-me a um cheiro específico: fumaça automobilística. Desculpe você a sinestesia.Agora analisemos paz. Você deve estar a pensar nalgum som da natureza e dos campos, também é uma visão certa. Mas para mim, aliado ao cheiro de verde (a boa e velha sinestesia), Mariana me vem com um som de maracatu. Mariana é ouvir as aves (dos galos que são meus vizinhos aos pássaros que cantam em meu telhado) e descansar. Mariana é andar pela rua sem pressa no caminhar e na expressão facial. É não franzir a sobrancelha por algo que não seja confusão por tentar decifrar algum som. Andar por Mariana é estar pronto para ouvir as aves que ouço em casa, é ouvir os macacos do jardim do ICHS, é ouvir o barulho do vento da Gomes Freire, é ouvir um ensaio de maracatu. Olhar para as montanhas que Mariana nos permite é estar pronto para ouvir maracatu de fundo. Não é maravilhoso?E falando em som saído dos humanos, andar por Mariana durante a noite é estar pronto para ouvir o som dos carros tocando funk e continuar andando para ouvir a musiquinha ao vivo de bar do Casarão e do Taberna. É andar mais um pouco e ouvir um blues no Scoth. É passar na praça Minas Gerais para assistir ao show da Fernanda Takai ou da orquestra da animada polícia da cidade no Festival da Vida. É querer ouvir Angu Feijão e Couve, é se permitir ouvir um samba e um axé no carnaval. É ouvir alegrias.Morar em Mariana é querer sinestesia.Espero que o leitor nativo tenha se encontrado nesse texto de um mero estudante vindo de uma cidade grande e acostumado com rotina caótica. Estudante esse que mora em Mariana por um ano, mas que já ama as sensações mistas que ela lhe propõe. “E quem há de negar que esta lhe é superior?”
Leandro Augusto
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