Precisava me concentrar em meus passos e movimentos. Aquela janela, apesar de estar a algo mais que um metro do chão, poderia me causar uma caída gigantesca. Procuro enfiar minha perna direita por dentro do braço esquerdo, que se apoiava no berço da janela. O cigarro preso com os lábios. O isqueiro preso nos dedos da mão direita do braço direito. Preciso sentar-me e acender o cigarro.
Depois de alguns movimentos mais perspicazes, consigo, enfim, adaptar-me àquela superfície de madeira, pequena demais para abraçar-me o bumbum, grande demais para agüentar o vazio que saía de dentro. O isqueiro produz uma luz que parecia queimar mais que o normal. A fumaça parecia entrar menos que o esperado. Eu me balançava para equilibrar o corpo na janela. A janela se movimenta e eu quase tombava.
O silêncio havia se instaurado há uns minutos silenciosos. Enquanto me concentrava nos pensamentos, que não pareciam passar de inícios – sem meio, sem fim –, ele embarcava no que prefiro constatar como caos mental. O cigarro nos separava. A fumaça neblinava o cômodo, como tinha de ser. O silêncio conturbava. O cigarro separava. Nós calávamo-nos.
A insegurança começava a tomar proporções escandalosas em nossos peitos. Você vai se cansar em pouco tempo, digo. Não vou me cansar, diz. Vamos nos perder. Estamos perdidos. Mas tudo vai passar, nós vamos lutar porque nos amamos de verdade. Não posso dizer com toda certeza de quem saíram aquelas palavras, sei que elas fizeram parte da conversa.
E foi assim que este trecho começou e não terminou. E é assim que as coisas caminham, sem caminhar. A janela se movimentava, ainda. Como se não houvesse fim. Como se não houvesse equilíbrio.
Adélia.
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