Este escrito tem propósito nenhum. Talvez tenha, mas ainda
não posso afirmar com plena segurança qual seja. Preciso escrever. Já faz um
tempo que não escrevo nada, um tempo que não me deixo as mãos percorrerem meu
teclado e só dizerem por mim. Seja alguma história ficcional, seja baseada em
minha realidade, pretendo matar a saudade de escrever. É por isso que preciso
aqui tratar de um assunto topical: a lembrança.
Estive na casa de meus parentes nessas férias e me peguei a
ver cartas e fotos antigas. Da época em que nem sequer era nascido. Li uma
carta de minha mãe endereçada à minha avó dizendo estar viajando e que o
Leandro se mexia muito na barriga. Aquilo me satisfez e insatisfez. Não sei se
poderei explicar-me, mas agora tentarei. De alguma forma, estar no casulo de
minha família me fez lembrar estar no casulo da barriga de minha mãe.
Obviamente não tenho memória alguma desse fato, mas posso imaginar o conforto
que era lá dentro. Creio que não seja uma ideia só minha, mas o que senti, e –
talvez melhor aplicado – como o senti, foi extasiante.
Voltando às cartas, encontrei um poema que havia escrito
para minha avó quando tinha provavelmente 12 anos. Não costumo gostar muito do
que escrevia em minha adolescência, mas aquele poema é muito bom! Na verdade,
isso pode mesmo parecer um ato de Narciso, mas eu realmente sabia compor poemas
muito melhor do que agora. Quer dizer, na última vez que compus um poema, eu
simplesmente quis-me enfiar num buraco e não sair mais, ainda que não o tenha
liberado a público. Fato é: acho que me orgulhei de ter escrito aquele poema.
Hoje comecei a ler pela primeira vez Memórias Póstumas de
Brás Cubas. Confesso que as condições exteriores à leitura, misturado ao fato
de estar muito cansado, não me possibilitaram prender a mente na leitura. Minha
mente foi longe naquilo. Muito longe. Comecei a imaginar como deve ser a
passagem dos mundos. Será que eu poderei ver quem compareceu ao meu enterro, ou
quem chorou mais por minha falência? Isso me deixou um pouco intrigado. Mas o
que me embarcou mesmo foi a possibilidade de me lembrar do que fiz em vida.
Isso seria magnífico!
Mas isso me faz lembrar que o assunto deste texto é
completamente vago. Não há o que dizer. Não há uma vida inteira para observar
de longe e avaliar meus erros e acertos. Há uma mente conturbada por vezes. Há
uma mente que observa muito mais o que pretende observar do que o que é
necessário ser constatado. Bem, não sei exatamente o que quero dizer com isso.
Infelizmente não o sei. Sei que poderei reler isso e tentar absorver o que
sentia quando escrevia. Porque o maior presente que se pode receber é o futuro.
O futuro de poder olhar para o passado e entender um pouco melhor o que se
passava. Por outro lado, o futuro de olhar para trás – gosto dessa metáfora – e
lamentar as lembranças que nosso coração faz questão de guardar. Amargamente.
Leandro Augusto.
Post-Scriptum: Pelo
que pesquisei, o título Amaro, que me veio repentinamente à tona, refere-se a
um licor italiano de gosto amargo tomado após refeições para a digestão. O
futuro olhando o passado.