27 de fevereiro de 2009

Atemporal


Dezenove anos: não quero a fome. Quero queijo, mesmo sendo pelo correio.
Nesses últimos dias eu ando meio nostálgico. Bem normal, todo aniversário se aproximando é assim. Todo aniversário é assim: eu faço questão de refletir a coisa mais inútil. Teoria do caos, lembra?
Dezenove anos: não quero aniversariar. Quero desaniversariar, mesmo sendo de brincadeira.
Eu me tranco no quarto - seja ele em Campinas ou em Mariana – e queimo os neurônios. Ano passado eu pensei em que quê me afetaria dezoito anos. Esse ano eu pensei em nostalgia, porque ela veio como reflexo da situação em que me encontrara.
Dezenove anos: não quero o patético. Quero a aceitação, mesmo sendo patética.
Eu andava fantasiando e sofri uma tremenda desilusão causada somente por mim. Só por mim, o que torna o caso bem pior. Andava pensando em futuro, e, por isso, o passado me bateu à porta.
Dezenove anos: não quero amigos. Quero pais, avós e Vô, mesmo sendo pelo correio.
Senti falta da família e a dor que é a passagem de meu aniversário longe deles. Não pensei em Vô. Adélia Prado pensou em nós dois. Adélia Prado diz que não quer queijo, quer fome. Eu quero o beijo pelo correio. Eu quero saber aceitar. Mas para isso, eu quero querer aceitar.
Dezenove anos: não quero aceitar. Quero telepatia, mesmo que seja telepática.
Uma coisa me é certa: nunca hei de encontrar alguém que me faça sentir o que senti. E não é papo burocrático. Esse não é um texto burocrático, com burocráticas respostas. Não há perguntas. Há um vazio que me foi deixado e que tentei – e talvez tento – substituir. Um vazio que ninguém há de repor. Esse vazio tem nome. Esse vazio tem distanciamento. Mas esse vazio tem alegria.
Dezenove anos: não quero angústia. Quero esse alívio feliz que sinto, mesmo sendo angustiante.
Tão bom saber que a vida há de devolver tanta bondade. Tão bom saber que eu hei de te ver mais feliz que nunca. E vou dizer: “Como você não mudou”. E você dirá: “Adélia Prado”.
Como eu mudei.
Como vou mudar.
Como eu quero você para abraçar nesse aniversário...
Dezenove anos: não quero Adélia Prado. Quero Tiago, mesmo sendo sem H.

Leandro Augusto

Um comentário:

  1. Caro Leandro.
    Belo texto.
    Reflete muitissímo bem a inquieteza humana perante o desconhecido...o que nos leva a pensar e almejar coisas com uma relevante frequência.
    Gostei muito do cárater poético porém prático de seus textos.
    E em muito me atrai a idéia da telepatia.rs!

    Feliz aniversário! (Atrasado)

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