15 de fevereiro de 2009

Ebriedade

Nós nos encontramos e cumprimentamos com um dissílabo arbitrário. Ele trazia o vinho. Vinho ruim, de má qualidade. De gosto agradável, entretanto.
Chegamos no local de seu agrado: o instituto em que estuda.
Sentamo-nos no chão e abrimos a garrafa do vinho ruim. Tínhamos a pretensão de tomar tudo e não ficarmos ébrios. Isso não aconteceu.
Discutimos um pouco de filosofia e nos encostamos na parede. Parecia que um insecto, um besouro, não gostou muito da ideia. Começou a chiar. Em sua primeira deixa, ele o matou com a tampa da garrafa. Mas, não é que o amiguinho veio ver o que acontecia. Porém não nos incomodou por muito tempo. Nós falávamos de água e rãs.
Chegou um momento em que nós não conseguimos segurar a emoção contida durante a semana e choramos juntos. Nós choramos e sentimos o que o outro sentia, exactamente o que ele sentia. Nós nos amamos por estarmos dividindo tal momento. O choro era tão casual que nem era doloroso. Era aliviador.
Acontece que enquanto chorávamos, nos tocamos. Nos tocamos e sentimos vontade um do outro. De tocar a pele e sentir o gosto que tinha. Vontade de excitar-se com todas as partes do corpo um do outro. Mas sentimos, principalmente, vontade de tocar a nós mesmos. Eu me senti muito atraente e irresistível. Irresistível é a palavra que melhor descreve aquele momento.
Nós não contínhamos a vontade de ficarmos nus naquele lugar e fazer sexo sem pudor. Sem preconceito. Nós fizemos. Nós ejaculamos juntos e gostamos de sentir o cheiro de nosso gozo misturado.
A garrafa ainda estava pela metade. Havia somente eu e ele naquele lugar. Era como se só houvesse um. Não éramos dois. Éramos um bêbado erudito solitário. E gostamos disso.
Nós já tínhamos parado de ouvir o insecto e já não nos lembrávamos do que falávamos antes de tanta emoção. Meu corpo formigava de tanto prazer que senti. Era como se tudo o que eu sentia, toda a minha tensão acumulada, fora condensada em meu corpo somente naquele momento. E gostava disso.
Comentei sobre tamanha reacção vinda de meu corpo com ele. Disse-me que sentia igualmente. Éramos um. E gostávamos disso.
Aquele lugar guarda as recordações de nossa noite, pequena noite. Ele guarda também a cúmplice de nosso ato: a garrafa vazia do vinho ruim.
Nós guardamos o cenário, o vinho ruim, o livro, as bitucas de cigarro, o insecto e o gozo misturado.
Nós gostamos daquilo.

João Hernesto

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