9 de junho de 2009

Diálogo



“Quando era menor, costumava ficar sempre em último lugar. Nunca ganhei nada.
Sempre estudei em ótimos colégio da cidade de São Paulo. Era dia de apresentação na escola. Caetano era meu ídolo número um. Sempre foi. Queria tanto ter tido a coragem que ele e seus amigos tiveram de lutar por um país mais democrático e menos censurado. Por isso, escolhi uma música para cantar.
Fui proibido, acabei por cantar João Gilberto – eis outro que gosto muito. As razões e as pessoas que envolvem o ocorrido não vem ao caso.
A questão é que cantei muito bem, apesar de não ter dado o melhor de mim. Não me dediquei, como tudo o que fazia. Queria ser o melhor, mas não fiz nada para ser. Não fui. Quem ganhou a competição (acabei por esquecer de te falar que tratava-se de uma competição) foi um garoto mirradinho como eu. Ele cantou Caetano.
Pouco antes de me casar, a ditadura já havia terminado. Queria cantar! Queria cantar lamentos e reclamações. Por que é que não podia ser como Caetano? Eu podia ser como ele! Por isso, inscrevi-me para uma seleção de novos cantores. Cantei João Gilberto por medo de parecer estar tentando tornar fraude Caetano.
Não fui chamado.
É por isso que eu digo que não sabia ganhar. Para se ganhar, é preciso ter o objetivo muito concreto e claro. Quando isso acontece, agente ganha, sabia?
Hoje não aceito nada que não seja o melhor, o preferido ou primeiro lugar.
Aprendi a vencer sempre.”
“Desde quando você aprendeu isso?”
“Desde que passei a viver sozinho, quando já havia desistido da vida casada. Quando entendi que, dali para frente, era por minha conta. Tudo o que eu fizesse era meu, e ninguém tinha direito de tê-lo, de ocupá-lo ou de me tirar do topo. Ninguém tem esse direito.”
“Eu acho que eu sempre pensei desse jeito. Ser o queridinho é muito bom.
Coisa de filho caçula.”
“Bobagem...”

João Hernesto

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Olha.
    Não há mal em querer ser o primeiro.
    Não há mal em não o conseguir sê-lo.
    Não há mal em não conseguir superar-se.
    Mal há em não tentar se superar.
    Não há mal em não aceitar derrotas;
    Mal há em não perseguir vitórias.
    E assim vai se fazendo a vida....

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