Então ele fechou os olhos.
Eles se deitaram na cama de solteiro, como costumavam fazer durante as noites e as manhãs que podiam passar juntos. “Eu senti sua falta”, disse. “O amor não se descreve, sente-se” o outro respondeu.
Eles deitaram-se um de frente para o outro e, como quem interrompe algo, suas pernas se encontraram, interrompendo, assim um olhar que parecia ter durado uma eternidade no relógio dos amantes.
Pernas, pés, mãos, braços, troncos, olhos, lábios, línguas, bochechas, dentes, unhas, barrigas, umbigos, pênis, nádegas eles eram. Toque eles eram.
O que estava à esquerda se levantou mostrando, assim, um corpo de praia. Um corpo de garoto crescido. Ele subiu em seu corpo, e manteve os lábios não muito longe dos outros lábios. Eles se olhavam, só queriam se olhar. Agradeciam por poderem se olhar naquele momento.
“Amo-te”, disse o de cima. E o de baixo não respondeu nada verbalmente. Ele disse com os olhos. Disse com um leve sorriso que deixou aparecer.
Uma lágrima caiu sobre seu rosto, de modo que ele não expressava dor alguma em sua face, não expressava força nem mesmo friccionava as maças do rosto ou as sobrancelhas. A lágrima simplesmente caiu, como cai um pássaro quando está a aprender a voar. Caiu assim como cai fruta madura do pé, pesada. Essa lágrima disse “Eu te amo”.
Pouco depois um som começava a sair sem muita força de sua boca emocionada: “Seu diabo”, sussurrou. O de cima sorriu e depois riu. “Eu senti sua falta”, “Eu também senti a sua”.
“A sua carta me fez chorar”, “Também me fez”.
Nesse momento ele abriu os olhos e notou estar sozinho novamente. Secou a lágrima que correra de seu rosto e ele não percebera. Aconchegou-se em sua cama de solteiro.
João Hernesto
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