O problema real aconteceu quando a TV roubou da vida real a realidade. E aí quando a intimidade de poucos pobres miseráveis é atingida, temos a dúvida: até quando vai a ética humana? Talvez Montesquieu estava bem errado quando disse algo como “ao passo que sou francês por mera casualidade”.
Ontem não tinha absolutamente nada para ouvir, ler, rir de, transar com. A minha opção: acabar-me embriagado na frente da velha televisão que guardara depois da última mudança (seis anos atrás). Liguei aquele botãozinho com algo escrito em uma língua estrangeira – minha intuição me dizia que era aquele mesmo o responsável pelo funcionamento daquele objeto ligado à tomada, pois ele era verde e aquilo me parecia bem obvio.
Eis que vejo um pequeno homem em cores na escala de cinza. Esse homem era narigudo e jovem. Narigudo e bondoso com os seres de sua espécie pois a plateia, que estava atrás dele, olhava-o de um jeito tão amável. O nariz o atrapalhava de ver o quanto era amado, mas ele sabia provavelmente porque alguém o havia falado. Ele ajudava uma mulher que pedia ajuda. Pelo quê percebi ela precisava de uma casa reformada, e ele possuía o dinheiro necessário para a tal da reforma. Caramba, preciso muito conhecer esse homem!, pensei.
A câmera mostrava a plateia chorando de emoção pela reforma, que nem tinha sido tanta coisa assim, quer dizer, qualquer pessoa com o dinheiro necessário faria aquilo. Talvez a pegada esteja nisto: o dinheiro. E, é claro, o jeito como a câmera é capaz de mostrar a bondade daquele nariz.
Mudando de canal (eu preciso me levantar para fazê-lo), vejo uma mulher muito bonita. Loura. Gostosa, como a juventude diz. Ela estava fazendo uma “transformação” no visual de mulheres feias que estavam prestes a perder os maridos e precisavam daquilo para aumentar a estima que já era alta. (péssimo trocadilho, desculpem-me). Pessoas chorando, pessoas rindo e gargalhando. Todos diziam “ela, a apresentadora, é tão boa!”.
Juro que não entendia o porquê de as pessoas divinizarem pessoas que são boas. O mundo está cheio de pessoas boas que ajudam pessoas de verdade. Digo, são pessoas de mentira, não são? E não é que são vidas de verdade? E não é que a ficção já não faz mais sucesso como antigamente? E não é que a vida real é aproveitada?
A televisão, que no passado trazia a realidade da arte (que imitada pela vida real), estava invadindo a vida real para mostrar problemas reais, e isso fazia muito sucesso! Isso divinizava pessoas que eram as aproveitadoras! Será que ninguém via isso? Aonde foi que a ética do homem chegou? Certo, agora eu estou indignado.
Leia de novo, caro leitor, o primeiro parágrafo. Ele serve tanto de introdução quanto de conclusão. O mais legal é que, depois que eu apresentei minha indignação, pode-se lê-lo com outros olhos e interpretação. Assim, com uma ferramenta muito moderna de o editor deste texto, ele transcreverá esse trecho para o final que segue.
Ctrl + C / Ctrl + D
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João Hernesto
Ontem não tinha absolutamente nada para ouvir, ler, rir de, transar com. A minha opção: acabar-me embriagado na frente da velha televisão que guardara depois da última mudança (seis anos atrás). Liguei aquele botãozinho com algo escrito em uma língua estrangeira – minha intuição me dizia que era aquele mesmo o responsável pelo funcionamento daquele objeto ligado à tomada, pois ele era verde e aquilo me parecia bem obvio.
Eis que vejo um pequeno homem em cores na escala de cinza. Esse homem era narigudo e jovem. Narigudo e bondoso com os seres de sua espécie pois a plateia, que estava atrás dele, olhava-o de um jeito tão amável. O nariz o atrapalhava de ver o quanto era amado, mas ele sabia provavelmente porque alguém o havia falado. Ele ajudava uma mulher que pedia ajuda. Pelo quê percebi ela precisava de uma casa reformada, e ele possuía o dinheiro necessário para a tal da reforma. Caramba, preciso muito conhecer esse homem!, pensei.
A câmera mostrava a plateia chorando de emoção pela reforma, que nem tinha sido tanta coisa assim, quer dizer, qualquer pessoa com o dinheiro necessário faria aquilo. Talvez a pegada esteja nisto: o dinheiro. E, é claro, o jeito como a câmera é capaz de mostrar a bondade daquele nariz.
Mudando de canal (eu preciso me levantar para fazê-lo), vejo uma mulher muito bonita. Loura. Gostosa, como a juventude diz. Ela estava fazendo uma “transformação” no visual de mulheres feias que estavam prestes a perder os maridos e precisavam daquilo para aumentar a estima que já era alta. (péssimo trocadilho, desculpem-me). Pessoas chorando, pessoas rindo e gargalhando. Todos diziam “ela, a apresentadora, é tão boa!”.
Juro que não entendia o porquê de as pessoas divinizarem pessoas que são boas. O mundo está cheio de pessoas boas que ajudam pessoas de verdade. Digo, são pessoas de mentira, não são? E não é que são vidas de verdade? E não é que a ficção já não faz mais sucesso como antigamente? E não é que a vida real é aproveitada?
A televisão, que no passado trazia a realidade da arte (que imitada pela vida real), estava invadindo a vida real para mostrar problemas reais, e isso fazia muito sucesso! Isso divinizava pessoas que eram as aproveitadoras! Será que ninguém via isso? Aonde foi que a ética do homem chegou? Certo, agora eu estou indignado.
Leia de novo, caro leitor, o primeiro parágrafo. Ele serve tanto de introdução quanto de conclusão. O mais legal é que, depois que eu apresentei minha indignação, pode-se lê-lo com outros olhos e interpretação. Assim, com uma ferramenta muito moderna de o editor deste texto, ele transcreverá esse trecho para o final que segue.
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João Hernesto
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