19 de setembro de 2010

Vide


Lá estava ela. Deitada. Linda. Belíssima. Estava ouvindo música e eu imaginava que música estaria a ouvir. Sei lá, não importa. Ou importa tanto que eu talvez queira saber que música é.

- O que você ouve?

- Ouço o que me agrada.

- Você é muito bonita. Não pude deixar de te notar no dia em que te vi pela primeira vez.

- Obrigada. Você também é linda. Seus seios devem ser lindos fora do sutiã.

- Quer ver?

- Sim.

Depois de imaginar um diálogo, voltei a pensar o que ela estaria ouvindo. O que ela estaria pensando. Em quem ela estaria pensando. E aquelas pernas grossas de quem mata qualquer um na hora do sexo. E aqueles seios voluptuosos que pareciam ser mais macios que qualquer um que meus lábios já provaram. Os lábios eram carnudos, mas pareciam ser um pouco flácidos. Lábios flácidos, isso é engraçado. Cabelos jogados no chão onde estava deitada. Madeixas loiras. Não gosto de loiras, mas aquela loira alta me chama atenção desde que a vi.

Ela se sentou. Seus olhos se voltaram para mim no mesmo instante. Uma distância de alguns poucos metros nos distanciavam. Eu tomava café. Ela tirava os fones de ouvido enquanto eu dava um gole no café fraco que eu comprei há poucos minutos, mas já estava frio. Nós nos olhávamos sem parar. Nós estávamos sozinhas e o barulho dos gritos das pessoas felizes não nos atrapalhava nem um pouco.

Permaneceu sentada e observando que não havia ninguém do meu lado, como costumava acontecer sempre que nos encontrávamos. Ela estava desacompanhada também. Era o momento preciso para conversarmos. Vou me levantar e ir a sua direção.

Levantei-me. Joguei fora o copo descartável sujo de resto de café açucarado. Voltei-me a ela e não encontrei coragem para seguir em frente. Voltei ao lugar onde me encontrava. Ainda estava quentinho. Ela olhava. Eu olhava para o chão, envergonhada.

Quem se levantou agora foi ela. Veio em minha direção e perguntou que horas eram. Disse que era hora de nós conversarmos. Tudo bem, disse ela. Conversamos a tarde toda e, no fim, demos um caloroso beijo.

Bem, ela, na verdade, levantou-se e foi em direção ao bebedouro encher a garrafinha de água que tinha em sua mochila. O bebedouro a tomou um tempo razoável para se decidir vir conversar comigo ou não. Vou conversar com ela, pensou.

Veio em minha direção, eu olhava o chão. Ela é ainda mais bonita envergonhada, pensou. Enquanto chegava perto, transpirava. O coração batia forte. A curiosidade para saber o tom de minha voz tomou conta dela. Estava decidida.

Eu a olhei e arregalei os olhos. Ela sorriu. Olhou para o chão para ver se não iria cair, porque sempre achou que cair num primeiro encontro não era a coisa certa para se fazer. Reparou meu sorriso em recompensa ao dela. Meus dentes brancos e perfeitos. Viu meus olhos pequenos pelos óculos fundo de garrafa. Meus cabelos nos ombros que me faziam parecer mais lésbica que qualquer outra. Olhou para meus seios e reparou que meus mamilos estavam arrebitados. Ela está excitada comigo, pensou.

Quando chegou a pouco mais de dois metros perto de mim, eu disse oi. Ela se virou, arrependida e envergonhada. Sorriu, dizendo tudo bem depois. Foi em direção à sala de estudos. Não vou conseguir estudar, pensou.

Eu fiquei desapontada com a situação. Mas sorria sem poder me conter pela felicidade de ter trocado uma palavra com ela. Amanhã eu a chamo para conversar depois do bandejão, pensei eu. Amanhã a chamo para conversar no intervalo, pensou ela.

Leandro Augusto.

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