Para Alice
Secos e Molhados gritando no rádio à pilha. Ela acordou e sentiu-se especial, pela primeira vez. Sentiu-se acompanhada pela presença mais especial que pode haver em sua vida. Feliz aniversário, amor. Ela agradeceu. Sentiu-se radiante. Não por ser seu aniversário.
Entre os dentes, segura a primavera.
Andou descalça em uma casa que podia chamar de sua. Em um lar que era só seu, de contrução só sua e de seu marido. Foi recebida pelo dia com um beijo de uma boca com bafo matinal. Sentiu-se especial.
Andou por cada cômodo, sentindo seu. Pensou em tudo o que viveu para ter o que tem hoje. Pensou em sua trajetória, pensou nas pessoas que encontrou até hoje. Nas presenças que tocaram seu coração de leve. Pensou nas revoluções que certas pessoas a causaram. Pensou nas primaveras que tocaram sua pele de leve. Pensou nos invernos que tocaram sua pele e queimaram. Nos verões que um dia a fizeram ficar vermelha na praia. Pensou nos outonos que eram insignificantes num país como dela.
Sentiu os pés sujos e se lembrou que a casa devia ser limpa. Não vou limpar, decidiu.
Estou mais pesada que antes. Ao mesmo tempo, sinto-me leve, como leve pluma. Sintiu vontade de sair pulando pelas ruas.
Esse não era um aniversário como outro. Seu presente veio dos céus. Ela havia sido presenteada como ninguém nunca fora. Ela se sentiu única.
Isso porque ela não era só ela. Ela era dois, ou duas. Ela amava alguém que nem nome tinha. Amava carregar em si uma vida. Amava ter a companhia de alguém de que ela nunca vira os olhos, sentira o cheiro, vira a cor da pele, degustara a pele. Amava conhecer, entretanto, cada parte de seu corpo. Amava saber tudo o que poderia estar pensando. Amava o fato de ser alimentadora desse ser maravilhoso.
Olhou para o céu e viu um raio de sol tocar seus olhos, fazendo-a confundir a visão. Sentiu seu filho confundir a visão junto consigo.
Ela tocou o chão e sentiu que seu filho tocava o chão juntamente.
Saboreou um morango e sentiu seu filho fazendo careta do azedume da fruta.
Porque é como se toda sua vida só fizesse sentido agora. É como se ela tivesse, finalmente, entrado no ciclo da mãe natureza. É como se ela visse a verdade sobre o mundo.
E em seu lar, sentiu-se um lar. E em seu mundo, sentiu-se um mundo. E em seu olhar, sentiu-se olhar. E em seu coração palpitando, sentiu outro coração palpitando no mesmo ritmo. Na mesma intensidade. Na mesma sintonia.
E Secos e Molhados cantavam para os dois, com a primavera entre os dentes. E gritavam. E eles gritavam juntos.
E notou o ciclo e a passagem de uma vida. Notou a constância do mundo, e quis viver mais e mais. Sentiu alegria em acordar e ter tantos presentes.
Leandro Augusto.
Escrevi esse texto com lágrimas nos olhos. Espero que esse meu presente seja, ao menos, um pouquinho bom perto desse que carregas, minha amiga. Amo-te com todas as minhas forças.
ResponderExcluirParabés a Alice e a esse texto que ficou maravilhoso.
ResponderExcluirbeijos Lê
Meu, tô chorando aqui. Vc é foda! O amor que sinto por você também. Eu sou melhor por ter você na minha vida.
ResponderExcluirImprimi o texto. Ele vai pra parede. Você merece.
Te amo