2 de novembro de 2010

Bento

Acordou sem ar. Soluço de choro. Lágrimas molhando seu rosto sonolento. Virou-se e viu o sonho deitado na mesma cama em que estava. Desejou ter mesmo acordado. Sentiu uma mão o acariciando. Sentiu vontade de cortar essa mão fora. Cortou. Levantou-se, porque aquela cama o matava. A mão a dormir.

Eu preciso de paz, pensou. Eu preciso de alguém que me faça sentí-la. Mas talvez nem eu mesmo a possa proporcionar a alguém. Cansei de me martirizar. Cansei de sofrer e perdoar logo em seguida. Cansei de me preocupar se vou sentir falta de algo. A essas alturas percebeu que a dor da perda, na verdade, já tinha chegado.

Pra quê atrasar? Pra quê empurrar para frente algo que vai vir à tona muitas e muitas vezes. Seja em sonhos sofríveis, seja em uma mente insegura. Não vou mudar, não vou tentar ser melhor. Não vou procurar prendê-lo junto a mim 24 horas por dia. Se quiser outro, procurará.

Acordou a mão. Não posso aguentar sua presença hoje; vá. E foi. E, no fundo, sabia que aquela dor passaria, para depois voltar de novo. E vai vivendo essa inconstância de sentimentos que implodem vez em quando. O que mantém à mente é: qual a frequência desses pensamentos? Será que suporto viver nesse caos?

Acho que não.

João Hernesto.

2 comentários:

  1. Meu, muito bom! Tem um simbolismo aí massa. Tipo, tudo é sempre igual e vai ser sempre igual. Você acorda se enganando que dessa vez é diferente, de que aquela pessoa é diferente, mas, como sempre, vamos dormir sabendo que isso é ilusão, tudo é sempre igual. Massa o seu jeito de retratar isso e aproveitar pra mostrar sua loucura interior. =D

    Sonhei com você essa noite. Saudade. Te amo.

    ResponderExcluir
  2. Ilusões, inconstâncias, sobra de muita falta. Você escreve sobre essa loucura toda e fica muito bom! Congrats! (:

    ResponderExcluir