“Um cão sem plumas
é quando uma árvore sem voz.
É quando de um pássaro
suas raízes no ar.
É quando a alguma coisa
roem tão fundo
até o que não tem).”
João Cabral de Melo Neto
Não sou poeta. Não sei escrever. Não sei descrever sentimentos. Sei sentí-los tocar meu interior. Não sei demonstrar afeição quando devo, não sei demonstrar tristeza quando devo. Sei disfarçar. Sei me mostrar quando escrevo. Sei demonstrar quem eu relalmente sou. Sei demonstrar nada do que eu deva ser.
Não sou demônio nem sou deus. Sou o que há entre os dois. Sou a divergência de opiniões. Sou o badulaque de um maracatu argumentativo. Sou o argumento e o contra-argumento. Sou o argumento ponta-pé inicial. Sou o ínicio do pensamento. Sou a quebra do ócio. Sou a ansiedade da criação. Sou a confusão depois da criação.
Sou a coceira. Sou o intrigado. Sou a gagueira de não saber explicar. Sou o gago que pensa saber explicar, mas não consegue transformar em comunicação o que se passa em sua mente. Sou a máquina mental e colapso. Sou a mente em colapso. Sou o caos. Sou o apocalipse. Sou a bomba que vai estourar, mas acaba falhando.
Sou poeta porque tenho sede da vida. Sou poeta porque não consigo passar abatido o movimento que a chuva faz quando toca meus membros. Sou poeta porque não sei explicar e descrevê-la. Sou impotente. Sou não-dotado de suficiência para traduzir o que minha mente anda sempre matutando. O que minha mente anda sempre tentando descobrir a relação entre os extremos da vida.
Sou poeta porque amo e odeio a vida. Mas não sou poeta porque não consigo nem ao menos terminar esse texto com uma boa solução. A solução inexiste. A solução não me é intrínseca. Eu não sou intríseco à solução. Ela cava tão fundo, até o que não tem. Sou o cão sem plumas. Sou a paisagem do Capibaribe. Sou João Cabral de Melo Neto.
João Hernesto
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