Não, obrigado. Recuso o que me oferecem. Sinto minha barriga cheia. Cheia de nada. Cheia de ideias caóticas. Cheia de eco. Sinto meus ouvidos recusando o som que emana do exterior. Sinto o exterior implodir meu corpo. Sinto o corpo de outrem se afastar. Sinto-o entrar. Sinto-o sair. Sinto-o explodir. Não o sinto.
Parece-me que tem pelo menos duas épocas ao ano em que o humor das pessoas se altera. E se altera muito bruscamente. Provas finais, entrega de relatórios. É tanta coisa. E isso vai se misturando com nossos problemas pessoais. Vai nos deixando meio sem força. Parece-me que ficamos sem força em meio ao caos. É como se o caos fosse algum tipo de Criptonita.
Ataque de lobo mau. Frases curtas. Ideias longas. Frases conteudística. Conteudístico é meu coração. Mas aí me bate uma coisa aqui dentro. Aí eu tento olhar lá dentro. Aí eu não consigo ver lá dentro. Aí eu fico mais vazio ainda.
Aí vem aquele monte de cobrança. Leandro, quando você vai montar as provas Quando você vai ter uma data de quando vem me visitar? Quando você vai me ligar? Quando você vai me falar quem são essas pessoas na sua rede social? Quando você vai parar de responder? Quando você vai entrar em colapso.
E eu fico só imaginando quando eu vou entrar em colapso. Digo, quanto mais consigo aguentar em pé, sem ter de pedir trégua? Nem sei. Só preciso de uma noite de sono. Muito sono. Sono profundo. Nenhum sonho. Só sono. O bom e velho amigo sono. Aquele que vem e repõe as energias, ainda que por uma só manhã. Aquele que vem e cala o exterior por uma noite.
E é aí que eu acordo. Tomo meu café forte. Olho minha agenda. Atendo meu celular. Vou às minhas reuniões. Preparo o almoço. Respondo mais alguns pedidos. Anro meu e-mail e a caixa de entrada está vazia. Estranho o fato de estar vazia. Dou aula. Dou aula. Grito com um aluno que pratica bullying. Dou aula. Vou à aula. Faço prova. Volto para dormir. Durmo.
E aí minha engrenagem volta a funcionar. Até que eu peça ajuda ao sono de novo.
Na Bíblia usam o verbo ser sem predicativo. Parece que deus é o único que é (ponto final). Deus é. Eu não sou. Sou o cachorro que toma chuva na rua. Sou a lua dos amantes e dos góticos. Sou os psicóticos. Sou os andróginos. Não sou.
Leandro Augusto.
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