1 de novembro de 2015

LEAN

Este conto tem o intuito de representar de que maneira eu venho tentado superar essa morte. Um bom recurso linguístico para o título é misturar duas palavras que nos denotam e chegar a uma simples palavra de duas sílabas, com sonoridade estranha por conta das vogais. Mas é esta a intenção: de um para dois.
Hoje eu tive a ideia de limpar meus móveis por dentro, tirar tudo, reavaliar o material, fazer a faxina mental, tentar me achar novamente. Depois de tantas histórias, de tantos momentos, de tantos cotidianos rotinosos, afinal de contas, onde começa eu onde começa tu, onde foi que nos perdemos, o que foi que restou de destroços de minha identidade.
É uma viagem futurense, é uma expressão neológica que pode mostrar a necessidade de olhar à frente ao menos uma vez nos últimos dias. Um futuro que, por outro lado, olha para o passado e nos vemos obrigados a retornar imediatamente para o que éramos antes de sermos a personagem em que nos tornamos: LEAN.
Propus-me, assim, a vasculhar nesse passado e projetá-lo ao futuro mais próximo por que pudesse esperar. Comecei a tirar livro por livro da estante empoeirada em um quarto triste, solitário e seriamente mal cheiroso pela nicotina. Retirei-os, aceitei um destino que eu mesmo tive de impor para minha mente se curar, para incitar mais um pouco o luto, mas dessa vez que ele fosse para meu próprio bem.
Sinto vontade de protelar um pouco mais, sinto-me não pronto para tal façanha, sinto vontade de tê-lo ainda, mas a morte foi inevitável, ele disse. Eu tive que aceitar e por isso devo iniciar logo essa procrastinativa tarefa. Conseguirei, espero, fazer minhas escolhas, refazer meus planos, achar o Leandro dentro de LEAN.
Já é hora de dormir, eu estou escrevendo este texto com intuito algum, com interlocutor não mais que eu mesmo. Flagro minha mente racionalizando “por que mesmo ainda não fiz isso?”, mas lembro-me que não fiz porque não é hora. A hora é: ser LEAN.

Augusto Leandro

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