1 de setembro de 2014

O poeta retorna

Retorna porque há de retornar. Porque adormeceu e esqueceu-se de como escrever. Esqueceu-se de como pensar nos sentimentos. Mas um poeta nunca morre, ele adormece e tira férias das subjetividades. Por falta de tempo. Por falta de espaço. Por falta de inspiração, mas nunca por falta de sentimentos.

Ao poeta é incumbida a função de relatar as sensações invisíveis, ele deve saber quando escrever e sobre o que escrever. Mas não deve, nunca, forçar um texto. Porque a poesia nasce da sombra, nasce do silêncio, nasce de coisas que ninguém pode mapear. A poesia tem o fim em si própria, assim como os sentimentos. Eles se gastam, são usados, são sentidos, mas sempre existem e ninguém deve compreendê-los. E, quanto mais difícil de alcançar seus significados, maior a necessidade da explicação poética.


Pelo simples fato de a vida não ter todas as respostas, o poeta escreve para dar razão ao que não tem razão. Para dar asas a uma imaginação impossível de ser fertilizada. Para traduzir as palavras que ficam, em verdade, nas entrelinhas. Assim, seu trabalho é inútil. Ninguém o entenderá, apesar de alguns tentarem. Porque o poeta nasceu do desentendido, ele nasceu do morto. Ele nasceu; assim, intransitivo. Mas nunca morre. Adormece. E, repentinamente, resolve escrever.

João Hernesto

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