Retorna porque há de retornar. Porque adormeceu e
esqueceu-se de como escrever. Esqueceu-se de como pensar nos sentimentos. Mas
um poeta nunca morre, ele adormece e tira férias das subjetividades. Por falta
de tempo. Por falta de espaço. Por falta de inspiração, mas nunca por falta de
sentimentos.
Ao poeta é incumbida a função de relatar as sensações invisíveis,
ele deve saber quando escrever e sobre o que escrever. Mas não deve, nunca,
forçar um texto. Porque a poesia nasce da sombra, nasce do silêncio, nasce de
coisas que ninguém pode mapear. A poesia tem o fim em si própria, assim como os
sentimentos. Eles se gastam, são usados, são sentidos, mas sempre existem e
ninguém deve compreendê-los. E, quanto mais difícil de alcançar seus
significados, maior a necessidade da explicação poética.
Pelo simples fato de a vida não ter todas as respostas, o
poeta escreve para dar razão ao que não tem razão. Para dar asas a uma
imaginação impossível de ser fertilizada. Para traduzir as palavras que ficam,
em verdade, nas entrelinhas. Assim, seu trabalho é inútil. Ninguém o entenderá,
apesar de alguns tentarem. Porque o poeta nasceu do desentendido, ele nasceu do
morto. Ele nasceu; assim, intransitivo. Mas nunca morre. Adormece. E,
repentinamente, resolve escrever.
João Hernesto
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