13 de julho de 2009

A Pele do Meu Amor

De todas as coisas que me são agradáveis assistir, a que me é favorita é ver meu amor dormindo. Gosto de sentir seu pensamento longe e condensado em qualquer sonho alheio a qualquer coisa que eu estiver pensando. Gosto de sentir o impacto de sua respiração em meu cobertor.
Gosto de ver o seu rosto. Suas linhas sem expressão. Delinear e dedilhar sua face e o meu amor nem percebe, por estar longe desse quarto. Eu gosto de ver o jeito com que sua testa constrói leves entradas e iniciam o coro cabeludo. Gosto do nariz do meu amor. Eu gosto muito de observar sua boca toda perfeita: carnuda, desenhada, delimitada pelo rosto e dona de um beijo que ninguém há de imitar. Eu gosto do seu beijo. Gosto de ver as suas bochechas e, então, reparar no formato que seu maxilar faz na virada do queixo até as orelhas. Gosto dos seus olhos um pouco puxados.
Gosto de manter na mente todas essas características para me lembrar enquanto o meu amor estiver acordado. Gosto de analisar suas expressões faciais. Por exemplo, me é incrível o fato de seus olhos conseguirem sorrir de um jeito puro e, questão de três minutos depois, sorrirem um sorriso safado de quem implora por mais paixão carnal. Gosto quando os olhos do meu amor ficam sérios. Gosto quando deixa de sorrir para fazer cara de amante. O melhor amante de todos. O sexo mais extravagante e ponderado. O sexo mais gostoso que eu já fiz.
Gosto, ainda, de sentir sua pele. Gosto de reparar que ela é macia e áspera ao mesmo tempo. Digo no sentido literal, nada de poeticidade. Suas mãos são mãos de donzela de contos de fadas. Suas mãos são macias, e eu me sinto a tocar nuvem de lá do céu. Seus braços são ásperos. Braços de homem brusco. Gosto do fato de serem ásperos. Gosto de sentir aspereza em seu toque. Gosto de sentir seus pelos a irem de encontro aos meus. Gosto de sentir seu tórax largo e quente. Ele me abraça e me faz queimar. Ele me abraça e faz o meu corpo refém. Meu corpo é refém de seu sexo. Meus lábios são refém de seus beijos. Fez-me refém o meu amor incondicional.
O meu amor me faz querer usar palavras bonitas, ele me faz mais parnasiano do que desejo ser. Faz-me brincar de ser poeta. Faz-me brincar de ser gente grande. Brincar de ser criança.
O que eu mais gosto no meu amor é a sua capacidade de não esconder o que sente. E demonstra tudo isso da forma mais clara. Demonstra nos olhos, nos lábios, na sobrancelha. Demonstra nos braços, nas pernas, no tórax. Demonstra na alma. Demonstra na alma quando sorri. Demonstra na alma quando me olha e para de rir com os olhos. Demonstra quando sorri apaixonado nos olhos. Quando inventa moda e sua língua diz eu te amo em idiomas diferentes. Quando sua pele arrepia e arrepia a minha também. Quando a pele queima e quando ela morna.
Eu reservo o meu coração para esse amor. Eu reservo palavras baratas e metáforas pobres. Não reservo rimas, faço a ritma de outras coisas. Coisas mais materiais. Reservo meus lábios, minha língua e meus dentes. Reservo meus olhos, meus óculos, meus ouvidos. Reservo meus braços, pernas e pés. Reservo minhas mãos, essencialmente. Reservo minha alma. Essas são minhas oferendas. Essas são tuas prerrogativas. Eu me entrego para ti tudo o que eu tenho de mais palpável como prova de meu amor. Tu aceitas te casar comigo hoje?

João Hernesto

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