6 de julho de 2009

Soft

Nós nos beijamos e senti aquela sensação que eu só costumo sentir com ele. Ficamos prontos para dormir. Eu o abracei com meus braços aconchegantes e ele respondeu com uma pele quente como tarde de verão. Uma pele que se mostrava acetinada e áspera ao mesmo tempo.
Imaginei um bom adjetivo que pudesse descrever tal toque. Melhor que macio é “soft”. Além de sua face semântica perfeitamente adaptada à esse sentimento que sinto, destaco também uma simples filosofia fonológica. Três consoantes é o som que ouvimos: primeiro o /s/ demonstra sua chegada de modo predominante e permanente; depois há o /f/ que parece soprar para longe como o vento o faz em dias como o de hoje; e, por último, encontra-se o /t/ que quebra de um jeito delicado e brusco essa palavra que me parece tão afetiva, esse som também me lembra um solo de bateria – a última das batidas de uma música (é um /ts/ breve). Além desse encontro consonantal, não posso deixar de notar e anotar o som completamente inglês de /o/, esse, que é o mesmo de “coffe”, me é precioso pelo fato de não ser nenhum som vocálico encontrado em meu idioma; ele é a razão pela qual eu apenas encontrei um adjetivo na língua inglesa e não na portuguesa.
Análises fonéticas à parte, eu senti o corpo estremecer com esse romance-antítese. É como um velho poeta dizia: o contentamento descontente. Eu sentia-me explodindo, queimando numa sintonia tão perfeita. Membros entrelaçados em um só corpo. Dois corpos se tocavam e tocavam também as almas. “Eu posso ver sua alma”, ele disse. Dito isso, eis que sinto uma mão a tocá-la. Ele me perfurou o corpo a ponto de tocar a alma. Ele tocou meu íntimo.
Ele dizia palavras poéticas e eu me continha em olhares, em beijos, em carícias. As carícias... Ah, as carícias... Elas não eram um simples tesão, elas eram gozo misturado a um amor que ninguém jamais há de descrever. Poeta algum. João Hernesto algum. Apaixonado do século XXI algum.
Hoje eu dormi e pude sentir sua respiração, pude sentir seus gemidos e seus sussurros. Eu hoje senti uma vontade de ficar na cama o dia todo, só para me dar o prazer de ver aquele bocejo de anjo outras vezes.
Eu hoje sinto meus lábios doendo de um jeito que sente saudade. Eu hoje quero aquilo de novo.
Quero fugir mais uma vez. Quero casar com você todos os dias da minha vida. Mas contento-me com a eternidade desses momentos
Ilusão preciosa a minha.

Leandro Augusto

2 comentários: