21 de março de 2010

Jasmins

Eu olho para os objetos que recebi hoje e me lembro do título a mim concedido: o de cuidar de cada um deles. Cada objeto desses representa dias, atos, acontecimentos, sentimentos. Eles não são e nunca serão por mim vistos como objetos, simplesmente. Eles são memórias, e são daquelas que o cérebro não nos deixa apagar; são daquelas que vêm concretizadas e são totalmente palpáveis. Essas memórias vieram de alguém e eu, agora, tenho a missão de levá-las comigo. Tenho de trazer comigo essas histórias e saber contá-las a mim mesmo e me lembrar das palavras que ouvi, na melodia em que ouvi, da voz de quem ouvi. As memórias dos objetos são modificadas por mim a partir de agora. Hoje a perspectiva é a minha.
Essa manhã eu acordei e vesti minha sinceridade. Preparei-me para encontrar alguém muito amável. (lembro-me agora da música interpretada por Frank Sinatra denominada Unforgetable; é um bom adjetivo) Quando estava saindo de casa, envolvido num sentimento misto de nervosismo com alegria, eis que uma fragrância me vem às narinas: jasmim, um campo enorme e florido com centenas de jasmins.
O filme foi tão longo, e o silêncio que em nós existia me parecia gritar tão alto. Eu senti minha pele arrepiar a cada toque daquelas mãos macias. Eu desejei seus lábios, seu corpo. Eu desejei poder me lembrar do seu gosto, parte por parte dele. E desejei ter-lo uma noite. Desejei sentir seu calor corporal e sentir, ainda, sua energia tocar a minha. Desejei voltar no tempo e poder me esforçar para tocar-lo a alma. Desejei ter de novo uma companhia para deixar minha cama de solteiro com aparência de minúscula. O cheiro de jasmins permanecia.
No caminho para casa, a cabeça a mil pensando no dia incrível por que passara, vem-me novamente o cheiro do campo de jasmins. Não me contive e parei naquela rua, que faz esquina com a de minha casa, e olhei em volta. Bem atrás de mim avisto uma árvore com flores muito alegres. As flores pareciam expressar tudo o que eu sentia. Aquela árvore expressava tudo o que eu sentia. E ela estava tão florida e tão irresistivelmente cheirosa, que não me contive e tirei um punhado para mim. Obviamente não eram jasmins, mas era exatamente o cheiro que eu sentira pela manhã. E não estou fantasiando o perfume que um campo de jasmins traz, pois o conheço bem.
Essa noite meu quarto cheira a jasmins. Como um grande campo florido. A Lua existe brilhosa no céu. E eu não estou sozinho. Essa noite eu não durmo sozinho, tenho um perfume que me faz companhia. A vizinha que me perdoe, mas preciso me alegrar mais vezes. Preciso ter as memórias desse sentimento de hoje mais dias do mês. Para isso, algumas flores das dela sumirão.

Leandro Augusto

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