17 de outubro de 2011

Café das Cinco

Que bom que veio! Fico feliz que tenha aceitado meu convite. Fiquei sabendo que conseguiu um emprego com ótimo salário. Isso é maravilhoso! Fico realmente bastante contente por você. Quer dizer, talvez eu não me sentiria há alguns anos, mas a ferida tem cicatrizado aos poucos. De vez em quando ela começa a sangrar, mas já encontrei alguns remédios para superar sua falta, sabe. Chamo-os de muletas, pois me sustentam em pé por alguns dias a mais. Mas, não, não no começo. No começo eu queria te ter de qualquer forma. Eu não parava de te procurar, mas não queria chamar sua atenção. Não queria que sentisse pena de mim ou que me aceitasse de volta. Não, não era isso! Na verdade eu só sentia uma necessidade imensa e incontrolável de te ver, nada mais. De pelo menos conversar com você, nem que fosse para que me rejeitasse, se eu tivesse sua voz direcionada a mim – um pouco que fosse – eu já me sentia bem.

Aceita um chá ou um café? Só que parei de tomar café com açúcar, tudo bem para você? Não sei por que, só parei.

Bem, você deve estar sabendo que estou indo embora, certo? Eu acho que durei tempo demais nessa cidade. Quer dizer, eu suportei te ver mais feliz sem mim, eu te vi construir sua vida de novo, como se um vendaval não o tivesse abatido. Eu te vi com outras pessoas, e acho que te vi feliz. Eu te encontrava pela rua e me limitava a dizer olá de longe. Eu tentei te esquecer, tentei não te procurar e consegui. Tentei viver minha vida e seguir em frente. Posso dizer que consegui, talvez por não ter tido escolha. Bem, eu me reergui durante o dia. Durante a noite, lembrava-me de você. Durante o dia seguinte, construía mais uma camada de tijolos e durante a noite seguinte, chorava mais um pouco a sua falta. Mas aprendi a viver assim, aprendi a viver no sufoco. Aprendi a chegar em casa e olhar para os meus móveis e te ver em todos eles. Aprendi a olhar-me no espelho e te ver atrás de mim me beijando o pescoço. Aprendi a deitar-me na cama e sentir o espaço que você ocupava e só sentir. Abraçar mil travesseiros e dormir em paz sabendo que você estaria lá. Dormir e desejar-te todo o mal, mas depois desejar-te todo o bem. Dormir e sonhar com você. Às vezes acordava com falta de ar, às vezes acordava sorridente.

O café está bom?

Bem, imagino que já tenham se passado 3 anos. Pensei que até agora já estaria mais feliz. Acho que a cidade não me faz bem. Acho que ver as pessoas e imaginá-las comentando que terminamos há muito e eu permanecendo a chorar, isso não me fez bem. Por isso decidi que vou embora. Vou deixar o caminho das ruas livres para você passear com seu novo ar de homem livre. Ouvirei músicas sobre amor à distância e não poderei me sentir parte delas. Conhecerei outros homens e me arrependerei de tê-los conhecido para tentar te apagar da minha mente. Mas acredito que estarei bem. Eu estou bem. Às vezes tento transparecer excelente, mas acho que não engano. Eu não te engano. Você sabe o que se passa aqui dentro. Você sabe que eu sigo com você aqui comigo. Você sabe, não sabe?

Só me resta agora tentar completar meus diálogos monologados com falas suas. Talvez um dia consiga saber o que se passa em sua cabeça, ou melhor, o que se passou, visto que é passado para você. Seguirei sabendo que me falta algo. Mas seguirei.

Adélia

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