7 de outubro de 2011

Dor

A vontade é de ficar. O dever chama, não é assim que dizem? Pois ele chamou. Na verdade, ele vem chamando há um tempo. Na verdade eu venho me recusado a vê-lo. A vontade de partir por um tempo veio de mim mesmo. A vontade de tentar esquecer de verdade. A vontade de colocar como passado todas as coisas que aconteceram.

Compro as coisas que precisarei para a viagem. Faço mapas em minha cabeça, mas nenhum planejamento. Separo minha mala. Começo a separar as roupas. Preciso arrumar meu quarto. Pego a louça suja esquecida. Vejo uma garrafa de cerveja que tomei quando conversamos pela última vez. Vejo a garrafa de vinho que tomei logo depois da notícia.

Mas a dor de verdade veio quando fui arrumar a cama. Sozinho, não vejo motivo para arrumá-la. Sempre arrumava-a quando sabia que viria. Arrumava meu quarto todo. Essa é a primeira vez depois de tudo que arrumo meu quarto sem que fosse para a presença que esperava a semana toda. Tiro meus travesseiros que vêm fazendo sua vez nos dias e nas noites, longas noites. Tiro meu cobertor e não encontro mais forças. Como se um grito calado e colhido saísse sem controle algum de dentro, bem de dentro. Sai e corre. Percorre minhas pregas vocais. As lágrimas caindo e eu nem percebo. A dor chegando sem ser convidada.

A vontade de desistir de esquecer. A vontade de implorar mais um pouco. A vontade de sentir o abraço de novo e de novo. A vontade de não perder isso. A vontade de me deitar e dormir e esperar que chegue de novo o conforto. Ele vai chegar, a vida não pode ser tão má comigo, não pode. A repetição presente em mim. A repetição presente em nós dois. A repetição tem que vir. Que venha logo, porque está difícil continuar a caminhada.

João Hernesto.

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