3 de outubro de 2011

Elegia

“Eis o segredo que ninguém sabe

Eis a raiz da raíz e o botão do botão

E o céu do céu do uma árvore chamada vida

Que cresce mais do que a alma pode esperar ou a mente pode esconder

Eis o milagre que mantém as estrelas à distância.” (Cummings)

Tinha dois anos quando aconteceu, propriamente. Tinha dois anos de idade. Dois anos de espera angustiante. Dois anos de espera. Dois anos. Até que chegou o dia marcado para acontecer. Acordou de uma soneca. Acordou e sorriu. Deu aquele sorriso largo. O dia foi 25 de maio, em 1992. Sorriu e pensou, agora posso ser feliz. Minha alegria acaba de nascer.

Cresceu pelo mundo, pulando obstáculos e costurando os rasgos que faziam na roupa. Viveu perambulando, como quem espera mais um pouco. Vai chegar o dia. Ele sabia que o dia chegaria. Saiu de casa, deixou a família. Buscou o sonho, precisava se movimentar. O momento de nos conhecermos vai chegar, eu sei que vai.

Quando marcaram um encontro, pareceu-lhe mais uma tentativa frustrada. Parecia que seu coração mais uma vez sofreria por não ter, de fato, encontrado a alegria por que tanto vem esperando. Conversaram sobre a vida. Falaram o que tinham vivido. De alguma forma, parecia-lhe que já se conheciam. Parecia-lhe que aquele monte de histórias era só um jeito de contar para um amigo que há muito não vê tudo o que tem acontecido. Houve reconhecimento.

Eles foram pra casa. Conversaram. Beijaram-se. Beijaram-se e ele desejou que aquele momento nunca mais fugisse. Aquele momento nunca mais fugiu. Continua vivo, continuou vivo por 16 meses. 16 meses perto de 20 anos de espera constante. Ele se sentiu em casa, sentiu-se confortável. Não precisava falar uma palavra que seja. Não precisava falar que amava. Só amava.

Os dois, eles foram para o outro o marco dos marcos. Eles representaram um para o outro o reconhecimento. Eles tiveram seus momentos, mas não comparados à alegria de ter, finalmente, o outro para ligar a noite e contar o dia. Esperar o fim de semana, contar os minutos para se encontrarem. Contar os segundos para se verem de novo. Porque era como se, quando estavam juntos, o mundo parava. Quando tocavam a pele um do outro, a vida esperava para continuar a rodar. O universo parava.

As coisas boas de verdade acontecem por pouco tempo. Nossa espera chega como quem chega de supetão. Depois, some sem nem sabermos ao certo o que aconteceu. Deixa-nos duvidosos da vida, se ela é vilã ou mocinha. Faz-nos ficar descrentes de deus. Faz-nos ter esperança, mesmo assim.

A luz que ele viu nos olhos, o momento em que o viu totalmente por dentro. Aquele momento, ele vai levar. Não há como negar. E ele vai permanecer esperando. 16 meses foram o suficiente para que o reconhecesse. 16 meses de alegria incomensurável. 16 meses de uma vida toda que levará até que se encontrem de novo. Até que suas almas se unam de novo e promovam o encaixe perfeito de novo. Afinal, ele esperou tanto tempo, pode continuar esperando a próxima vida, o próximo encontro. Ele esperará. Voltar à estaca inicial, ao ponto zero. Só que, dessa vez, alegre por saber que não será uma espera por um objeto desconhecido.

Até logo, disse.

Leandro Augusto.

“Eis o segredo que ninguém sabe

Eis a raiz da raíz e o botão do botão

E o céu do céu do uma árvore chamada vida

Que cresce mais do que a alma pode esperar ou a mente pode esconder

Eis o milagre que mantém as estrelas à distância.” (Cummings)

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