Dormiu tarde, mas mesmo assim colocou para despertar o relógio. 7:30 é um bom horário. Acordou ainda bastante sonolento. Tomou um banho para tirar o suor de ontem e para acordar. No banho, pensou, se preparou, preparou a alma para tirar um sorriso da cara do outro. Pegou uma toalha para se secar, um protetor solar para se proteger, uma troca para vestir. Esqueceu o chinelo. Saiu de casa contente.
Parou antes na padaria e comeu como um boi, talvez para compensar o dia de ontem, que sobrevivera com dois pães franceses e uma sopa individual. Pediu um suco de laranja para levar, porque aqui eles não falam para viagem. Na verdade, eles também não falam pão francês, e sim pão de sal. Pediu que colocassem o suco de laranja na garrafa e imaginou que ele tomaria e ficaria empolgado com o convite.
Comprou um bolo de laranja com chocolate, que parecia apetitoso. Comprou pães, presunto, queijo e maionese, que pareciam triviais. Comprou água e suco, que pareciam essenciais. Pensou em comprar frutas, pois estavam os dois doentes. Não comprou, não queria se atrasar para a surpresa.
Subiu a ladeira e sentiu um calor insuportável. Ligou para ele e não conseguiu falar. Ligou mais uma vez e ele ainda não atendia. Subiu mais um pouco. Suava muito por conta da febre que tivera pela noite e do sol, que parecia ser ótimo para um dia daqueles.
Chegou à casa que visava. Chamou mais uma vez ao telefone. Ele atendeu. Disse que já sairia, que acabara de sair do banho. Ele esperou dez minutos. Sua irmã apareceu. Oi, disse. É, estou esperando que saia do banho, já avisei que estou aqui fora. Ela saiu arrumada. Mais dez minutos e ele apareceu.
- Oi, disse.
- O que você quer?, ele não se sentou, fitou-o como quem fita um cachorro pedir comida, mas nada faz.
- Trouxe bolo, pães, suco de maracujá, água, protetor solar e um suco de laranja para melhorar. Vamos à cachoeira?
- Tenho o batizado da minha sobrinha. Não posso ir.
- Mas podemos ir depois que você sair de lá.
- Não, depois tem almoço em família.
- Podemos ir depois disso.
- Não vou sair com você, Leandro.
Seus pais apareceram e o cumprimentaram. Chamaram-no para entrar. Ele recusou. Pediu mais um pouco, como quem quase implora. Seus pais continuavam lá, como quem arruma o carro para sair. Ele pedia baixinho, enquanto o outro repetia seu nome seguido de não, como quem quase grita.
Ele respirou fundo. Quase chorou. Sentiu-se um pouco humilhado, como quem recebe um não na frente dos pais daquele que costumava ser seu namorado. O outro entrou. Ele se levantou, como quem desiste. O pai perguntou se ele não vai ao batizado. Ele respondeu que está tentando convencê-lo a ir à cachoeira. A voz saiu um pouco trêmula, mas conteve-se. Voltou a subir e foi pra casa pensar no que mais tentaria.
João Hernesto.
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