Abriu os olhos e percebeu estar atrasado. Deve ter pronunciado algo como “droga”, apesar de não se lembrar exatamente. Olhou para o lado e persistiu em olhar aquele olhar sonolento de garoto grande. Como se o feriado ainda o chamasse para ficar deitado, como se os dias de folga o tivessem feito tão bem que acordar seria absurdo.
As palavras de amor que o invadiam, os sentimentos de afeição que o atacavam e deixavam-no sem armas. O feriado que tinha de se prolongar, não podia acabar. A vontade de continuar. A vontade de mais cinco minutinhos, que pareciam muito mais. De alguma forma o tempo quando estavam juntos os fazia mover-se lentamente. Bem lentamente. Fazia-os parar a engrenagem quase que por completo. Fazia-os querer pausar o relógio. A briga entre o passado e o futuro. E o presente que nunca podiam segurar.
Há duas semanas se encontraram pela primeira vez. Eram rapazes muito bonitos.Chamavam atenção por onde passavam. Cheirosos como só, chamavam a atenção um do outro. Ele estava bastante ansioso pelo encontro. O outro estava de ressaca. Não se sabe por que, mas ele sentiu que o outro sentia algo parecido com o que ele sentira durante o dia. Conversaram e puderam analisar um ao outro. Ele reparou que o outro estava apreensivo, só pelo jeito como seus braços ficavam em meios às próprias pernas. Ele percebeu que o outro tinha muito em comum consigo e percebeu que algo aconteceria entre aqueles dois. Percebeu aí que os dois tinham algo para fazer o mundo um do outro balançar. Eu posso me apaixonar em uma noite, disse. O outro sorriu, mas ele não pôde constatar se era dos bons ou não.
Bem, as pessoas que assistiam àquilo pensavam que a história era uma boa história, mas não entendiam o real significado que aquela experiência lhes propunha. De um jeito estranho, um sentia necessidade do outro. De um jeito ilógico, ele sentia-se totalmente confortável com o outro. De um jeito lógico, ele disse que o amava. E quem há de negar que está ele errado por querer demonstrar o carinho que pelo outro sente? Ele precisava dizer que foi por causa do outro que o sorriso não lhe saía do rosto há duas semanas. Ele precisava que o outro soubesse que, quando não está com ele, está com vontade dele. Ele precisava mostrar que o mundo começou a ter mais cores e as pessoas começaram a ter mais cores só por causa da intolerância que sentiu ao se deparar com um mundo de cores nos olhos do outro.
E depois de toda essa sinestesia de cheiro, sabor, toque, visão, espírito, lembrou-se que estava mesmo atrasado. Levantou-se e viu o outro o observar atento, como quem quer aprender mais sobre algo. Pensou, esse menino não pode existir! Mas existia. E estava ali o bloqueando de passar pela porta para resolver os problemas de seu atraso. A vontade de ficar o tomou conta. A vontade de ficar para sempre o tomou conta. Mesmo assim, foi. Foi sem saber se o veria novamente, pois, como discutiram, o futuro não existe. Foi sem saber se teria a oportunidade de desfrutar aquela migalha de divino que dos deuses lhe foi lançado. Foi com a plena certeza de que sua vida mudara, de que tempos bons estavam por vir. Foi e soube que viver agora era muito bom. Foi e continuou pensando nele. E continuou pensando no feriado só para ver se o feriado se prolongava mais um pouco.
João Hernesto.
Ok, tenho 13 anos o que direi sobre seu texto? Soa tão simples a palavra texto, como se fosse algum recado, bom voltando ao ponto, muito bom, de verdade Leandro, muito bom mesmo.
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