10 de novembro de 2011

Ode à Alegria

Caro,

Há algum tempo resolvi, claro que em meio a um desesperador salto de um minuto, que deveria esquecer-te. De forma esquisita, decidi que não mais tremeria ao ouvir falarem de ti, ou não mais em mim nasceria o incontrolável desejo de procurar-te em vão. Decidi ser feliz sem ti e amar-te como um passado prazeroso de que faria questão de esquecer.

Procurei dentro de mim mesma vontade de ser mais bonita, de ser mais sorridente, de deixar minha própria luz brilhar mais alto que a tua. Foi exatamente isso o que fiz. Tendo isso em vista, não posso afirmar com plena certeza de que me encontro num momento mais feliz. Não posso comparar as duas situações – a que me encontrava ao teu lado e a que me encontro a meu próprio lado – de forma coerente e racional. Posso, entretanto, dizer que procuro ser mais feliz agora do que fui contigo. Isso pelo simples fato de querer meu próprio bem, possuindo-te ou não.

E a possibilidade de ter-te de volta, eu simplesmente excluí dos pensamentos. E digo exatamente o motivo pelo qual cheguei a essa conclusão: não te quero mais em minha vida. O tempo desse salto eterno – que deve mesmo ter durado um minuto ou menos – fez-me ver as coisas de um patamar acima. Assim como se os deuses tivessem-me levantado e possibilitado ver as emoções na forma de maquete escolar, pude ver as ações que tinhas para comigo e resolvi que, de fato, não te quero mais.

Descobri que não éramos felizes de qualquer forma. Descobri que construí em ti um porto seguro e que não conseguia desapegar dele. Talvez por desejo por tua pele, por teu sexo, por dormir agarrada a ti, não pude ver a vida pelo que ela me é apresentada: realidade. Não te procuro mais pelo fato de não mais querer me enganar e entrar neste legado imaginário. Eu me permiti, assim, ser mais forte quando te visse pelas ruas escuras da cidade.

Quando te vi, por acaso, tocando teu piano um tanto desajeitado, na mesma hora senti meu coração palpitar de forma nada correta, de forma doentia. Doentia porque tomou conta de minha alma inteira e me fez parar para cumprimentar-te. Se eu soubesse que ebulições pequenas me causariam aquele encontro, não te teria entrado e te teria guardado como o que já não quero mais. Mesmo assim, entrei. Saí decidida a não mais te procurar.

Naquela noite, tu me procuraste. Alguns dias depois, tu me encontraste sozinha na praça e paraste para conversar. Pela noite, tu me procuraste novamente. E é pelas ebulições, é pelas erupções febris que tua presença causa em mim que venho pedir-te: deixa-me só. Deixa-me esquecer de teu rosto aos poucos. Deixa-me ver-te como quem se foi e deixou o legado intacto, ainda que morto. Deixa-me viver minha vida e eu prometo não procurar-te também. Quero, sim, tua amizade, mas agora eu preciso manter distância do que para mim é perigoso, não por medo de perder o auto-controle, mas por medo de não sobreviver. Porque é isso o que tu fazes em mim: faz-me morrer minuto por minuto.

Hoje eu não quero mais morrer. Eu quero viver. Comigo, não contigo. Para mim, não para ti. Hoje eu quero Ode a Alegria de Beethoven, não Eu Perdi o Sentido do Mundo, de Mahler.

Adélia.

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