- Então, o que é que vai ser?
Ele lia com jeito de quem não entendeu a piada. Palavras novas, léxico avantajado para o lado esquerdo, ou teria sido o direito? As pessoas perguntavam-lhe coisas e nada ele respondia. Só estagnava a mesma pergunta. O mesmo questionamento. As mesmas ideias lhe ocorriam.
- Então, o que é que vai ser?
Enquanto tomava um gole de sua água, porque não podia tomar café nem chá e nunca gostou de refrigerante ou suco, pensou no que interpretar dessas coisas. Pensou e pensou. Decidiu que não faria absolutamente nada, como antes. Ficaria sentado desfrutando a água, que, por essas horas já estava acabando.
- Então, o que é que vai ser?
O que seria é que ele tentaria caminhar. Não quis mais levar a vida dessa forma. Decidiu-se e levantou. O mundo rodou um pouco, talvez. Ou talvez sua cabeça estivesse rodando no mesmo lugar. Não podia distinguir aonde, do caos, começava a confusão e aonde começava o caos da confusão. Sabia que vivia entre os dois. Chegara a hora de escolher qual lado seguir.
- Então, o que é que vai ser?
Foi assim como... Foi de um jeito torto. Cambaleou. Não, tropeçou e cambaleou para se levantar. Trocou as pernas de lugar com os braços e caminhou, apenas caminhou. Não caminhou, pensou ter caminhado. Quando deu por si, estava exatamente no mesmo lugar. E não se movimentou. E nada fez. E nada pensou. Assim como antigamente. Do mesmo jeito de antes. Parado. Pausado. Interrompido. Pontuado. Ponto final.
- Então, o que é que vai ser?
R
E
T
I
C
Ê
N
C
I
A
S
.
.
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Adélia.
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